EXCLUSIVA: SANTANDER VÊ MAIOR DEMANDA POR CRÉDITO IMOBILIÁRIO E QUEDA NOS PEDIDOS DE CARÊNCIA
Por Circe Bonatelli
São Paulo, 29/06/2020 – O mercado de crédito imobiliário deu sinais de melhora nas últimas semanas, com aumento na procura por novos empréstimos e diminuição nos pedidos de carência nos contratos. A avaliação é do novo diretor de negócios imobiliários do Santander Brasil, Sandro Gamba.
“Entre maio e junho tivemos um incremento considerável na entrada de novos processos em comparação com os meses de março e abril, quando o setor teve um impacto pelo menor número de transações imobiliárias”, observou Gamba, em entrevista ao Broadcast. “O volume de análise de crédito vem aumentando tanto no mercado de imóveis novos quanto usados. Isso é um dado positivo”, acrescentou.
Outro fator positivo, segundo ele, foi a diminuição nos pedidos de carência no pagamento dos contratos já em andamento. Logo que a pandemia estourou, o Santander Brasil ofereceu uma paralisação nos pagamentos por dois meses e recebeu 60 mil pedidos nesse sentido. Com a continuidade da crise, a instituição ofertou a possibilidade de estender a carência por mais dois meses, o que gerou 18 mil pedidos, isto é, 70% menos do que na primeira leva.
No momento, o banco está avaliando se concederá um terceiro período de carência, mas é provável que isso não aconteça, dada à diminuição da demanda por essa prorrogação, sinalizou o executivo. “Essa queda mostra que o nosso cliente está se adequando à situação”, avaliou. Questionado se espera avanço da inadimplência depois que a carência for suspensa, ele respondeu que ainda é cedo para traçar uma perspectiva, e que esse indicador será monitorado de perto.
A melhora do comportamento da carteira, associada à redução da taxa básica de juros (Selic), contribuiu para a decisão do Santander Brasil em diminuir os juros do financiamento para compra da casa própria. A nova taxa anunciada na sexta-feira (26) foi para 6,99% ao ano, ante 7,99% ao ano (mais TR), que vigorava desde julho do ano passado. “Estamos convictos que teremos demanda relevante”, afirmou.
Gamba estimou que cada ponto porcentual de redução na taxa aumenta em cerca de 8% a 10% o valor do financiamento que uma família consegue tomar, isto é, aumenta diretamente o seu poder de compra, o que dará mais liquidez ao setor. “Neste novo momento, vimos que há uma situação de oportunidade de contribuir para impulsionar a demanda do setor imobiliário”, afirmou. “Sempre que tivermos essa oportunidade, e o contexto do cenário nacional permitir, nós vamos mexer na taxa”.
Construtoras pararam de tomar crédito
Ao longo deste ano, a carteira de crédito imobiliário tem mostrado um comportamento distinto. Entre janeiro e maio de 2020, o banco já concedeu R$ 3,6 bilhões em empréstimos para pessoas físicas comprarem a casa própria, alta de 5,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o crédito para construtoras tocarem os projetos ficou em R$ 663,0 milhões, recuo de 30,1%, devido ao adiamento de obras e lançamentos pela pandemia.
A expectativa original para este ano era de que o volume consolidado de novos empréstimos fosse similar ao registrado em 2019, mas agora, há muitas incertezas sobre como será o comportamento da economia brasileira como um todo. O executivo acrescentou que está acompanhando os planos das incorporadoras em retomar o lançamento de novos projetos.
“Ainda não dá pra afirmar que teremos uma queda nesta linha (pessoa jurídica). Se o mercado verificar que o segundo semestre será mais positivo, a tomada de decisão para voltar a lançar será rápida, e nós estaremos prontos para liberar o crédito para as construtoras”, explicou.
Gamba conhece bem o lado produtivo. Ele trabalhou por mais de dez anos na Gafisa, chegando a cargo de CEO, onde permaneceu até 2019. No Santander Brasil desde fevereiro de 2020, ele descartou a possibilidade de ver uma quebradeira de construtoras nos próximos meses, assim como aconteceu na esteira da crise iniciada em 2014.
Naquela época, a crise pegou as construtoras bem no fim de um grande ciclo de obras e entrega dos apartamentos – momento em que elas concluem as vendas e recebem a maior parte do pagamento pelo imóvel. Mas muitos consumidores perderam interesse ou capacidade de sustentar o negócio e cancelaram a compra.
Agora, as empresas estão no começo de um novo ciclo de obras (São Paulo teve recorde de lançamentos em 2019), os estoques e as dívidas são menores, o que diminui o risco de problemas sistêmicos, segundo Gamba. “Claro que algumas empresas podem ter dificuldade de fluxo de caixa, mas não vejo isso acontecendo no mercado de modo geral”, ponderou.
Ele comentou ainda que a redução da Selic tem permitido o desenvolvimento de novas modalidades de crédito. Uma delas é o financiamento indexado ao CDI, que tem correspondido por 100% das transações nos últimos dois meses. Por ora, essa modalidade está restrita a empresas.